O dia 5 de outubro é um feriado nacional muito importante em Portugal, no qual celebramos a implantação da nossa República.
No episódio de hoje vamos falar sobre porquê e como é que a Implantação da República aconteceu e quais foram algumas das mudanças nos símbolos nacionais portugueses mais importantes.
TRANSCRIÇÃO:
Olá e bem-vindos de volta ao Portuguese With Leo!
Ontem foi dia 5 de outubro, que é uma data muito especial para os portugueses e é um feriado nacional em Portugal. Um feriado é um dia em que se suspende o trabalho e as aulas na escola, normalmente para se celebrar uma data ou um acontecimento histórico ou religioso. Chama-se feriado nacional quando este evento é celebrado em todo o país. Em inglês diz-se national holiday.
Neste caso, no dia 5 de Outubro celebramos a Implantação da República, que aconteceu em 1910, ou seja, há exatamente 110 anos.
O episódio de hoje vai ser um episódio histórico em que vamos aprender o que foi a Implantação da República e porque é que aconteceu. Mas antes de passar ao episódio quero agradecer às pessoas que, nas últimas semanas, apoiaram o Portuguese With Leo, através de doações. Essas pessoas são: o David Lavington, o John Hunt, a Helen Tsui, a Scarlet Verkuijlen, a Hana Sherwood, o Andrew Paez, o Ultan Doyle, o Bruce Joffe, o Sebastien Hareng, a Patricia Heyworth e o Nathan Singham. Muito obrigado a todos e a cada um de vocês!
Antes de mais nada, o que significa Implantação da República? A palavra implantação vem do verbo implantar, que significa estabelecer, iniciar o desenvolvimento de alguma coisa. Em inglês pode ser traduzida como to implant ou to implement.
A palavra república vem do latim res publica, que significa “coisa pública”, e é uma forma de governo em que o povo elege os seus representantes para governarem. Como já devem ter adivinhado, em inglês diz-se republic.
Ou seja, a Implantação da República foi o momento em que se iniciou, em que se estabeleceu a República em Portugal. Antes do dia 5 de Outubro de 1910, Portugal era uma monarquia, ou seja, era governado por reis e rainhas. Depois dessa data, Portugal passou a ser governado por ministros e presidentes eleitos pelo povo, ou seja, passou a ser uma República.
Para percebermos o que é que levou a esta mudança de regime, temos de voltar atrás, ao ano de 1890, em que o governo britânico fez um ultimato a Portugal.
Nestes tempos muitos países europeus estavam a disputar territórios em África, e Portugal pretendia ocupar toda a área que existia entre os países Angola e Moçambique, que eram colónias portuguesas. O governo britânico, por sua vez, também tinha planos de ocupar essa área entre Angola e Moçambique para fazer um caminho-de-ferro a ligar a colónia inglesa da África do Sul ao Cairo, no Egipto.
Ora, perante esta disputa, o Império Britânico, que era mais poderoso do que Portugal, fez um ultimato ao Rei D. Carlos, obrigando-o a retirar as tropas portuguesas daquela área. O Rei de Portugal cedeu às exigências britânicas, e isto foi visto como uma humilhação e como um sinal de que a monarquia portuguesa era fraca.
Isto levou a que, um ano mais tarde, em 1891, houvesse uma revolta dos republicanos contra a monarquia na cidade do Porto. Os republicanos eram as pessoas que defendiam que Portugal devia ser uma república e não uma monarquia. Esta revolta não teve sucesso e os revoltosos foram presos e condenados. No entanto, a música patriótica que eles cantaram durante a revolta manteve-se como símbolo da República. Essa música chama-se “A Portuguesa”.
Apesar do insucesso desta revolta, o descontentamento com a monarquia cresceu e cresceu, e 17 anos mais tarde, a 1 de fevereiro de 1908, os republicanos tiveram a sua primeira grande vitória quando levaram a cabo o regicídio.
A palavra regicídio, ou regicide em inglês, significa o assassinato de um rei, e a 1 de fevereiro de 1908, o Rei D. Carlos I e o seu filho, o Príncipe Herdeiro D. Luís Filipe, foram assassinados em Lisboa, enquanto atravessavam a Praça do Comércio numa carroça aberta.
O filho mais novo do Rei, o Príncipe D. Manuel, sobreviveu a este atentado e herdou o trono de Portugal. No entanto, o seu reinado foi muito curto, porque 2 anos mais tarde, a 3 de outubro de 1910, começou então a revolução republicana. Esta revolução durou 2 dias e acabou com a vitória dos revolucionários e com a proclamação da República na manhã do dia 5 de outubro de 1910.
Após a proclamação da República foi criado um Governo Provisório chefiado por Teófilo Braga. Obviamente, esta mudança radical no regime levou a muitas mudanças em Portugal: mudanças das leis, mudanças da Constituição e mudanças da organização do governo. No entanto, vou falar apenas das mudanças que foram feitas aos 2 símbolos principais do país: o hino nacional e a bandeira de Portugal.
Em relação à bandeira, a bandeira monárquica tinha o brasão real de Portugal sobre um fundo dividido ao meio em azul e branco, azul do lado esquerdo, que é o lado da haste, e branco do lado direito.
A nova bandeira da República Portuguesa substituiu o azul e o branco por verde, que representa a esperança, e vermelho, que representa a força, a coragem e o sangue derramado pelos portugueses. No meio destas duas cores está a esfera armilar, que é um instrumento de astronomia que era muito usado pelos navegadores portugueses e que representa a época dos Descobrimentos, que é uma época gloriosa da História de Portugal.
Em frente à esfera armilar está o escudo português, o mesmo que era usado na bandeira monárquica e que também representa o passado glorioso e conquistador de Portugal. O escudo português tem 7 castelos, que representam os sete castelos da região do Algarve, no sul de Portugal, conquistados no século XIII pelo Rei D. Afonso III.
O escudo tem também 5 escudos mais pequenos, chamados quinas, que representam os cinco reis Mouros derrotados pelo primeiro Rei português, D. Afonso Henriques, na batalha de Ourique no século XII. Durante esta batalha, o Rei D. Afonso Henriques teve uma visão de Jesus Cristo na cruz e foi graças a essa visão que ganhou a batalha. Desde esse momento, o rei decidiu adotar como seu símbolo pessoal as cinco chagas de Cristo, ou seja, as cinco feridas que Jesus Cristo sofreu ao ser crucificado. Estas estão representadas na bandeira portuguesa como 5 pontinhos brancos, um em cada quina.
Antes da Revolução, o Hino Nacional da Monarquia chamava-se Hino da Carta. Depois da Revolução, escolheu-se como Hino Nacional da República a música “A Portuguesa”, que tinha sido o símbolo da Revolução Republicana desde 1890:
Heróis do mar, nobre povo,
Nação valente, imortal,
Levantai hoje de novo
O esplendor de Portugal!
Entre as brumas da memória,
Ó Pátria sente-se a voz
Dos teus egrégios avós,
Que há-de guiar-te à vitória!
Às armas, às armas!
Sobre a terra, sobre o mar,
Às armas, às armas!
Pela Pátria lutar
Contra os canhões marchar, marchar!
Espero que tenham gostado deste episódio sobre história e sobre este feriado tão importante para Portugal. O meu objetivo é, daqui para a frente, fazer episódios sobre a história de cada feriado português na respectiva semana, por isso o próximo episódio sobre a história de um feriado vai ser no dia 1 de novembro, que é o Dia de Todos os Santos. Mas não se preocupem porque até lá ainda vão haver outros episódios!
Se este tema da implantação da República vos interessa e quiserem saber um pouco mais sobre o assunto, há um curto documentário chamado Conta-me História que fala disto um bocadinho mais a fundo e que está disponível no Youtube.
O link está na descrição, mas não se esqueçam de que este programa foi feito para falantes nativos de português, por isso eles falam bastante rápido e é um pouco difícil perceber tudo o que dizem. Ainda assim, é um ótimo treino, principalmente para alunos com um nível um pouco mais alto.
Muito obrigado por verem o vídeo até ao fim e vemo-nos no próximo episódio!