No episódio de hoje falo sobre os verbos acabados em -OR, mas mais especificamente o verbo Pôr.
TRANSCRIÇÃO
Olá e bem-vindo de volta ao Portuguese With Leo!
Para qualquer estudante de uma língua latina, existe uma questão que é igualmente amada e odiada: os verbos e as suas intermináveis conjugações.
Há quem ache divertido aprendê-las e há quem se pergunte porque é que tem de ser tudo tão complicado.
Mas a verdade é que para falar o português bem, é preciso saber conjugar os verbos.
Em português os verbos dividem-se em 3 grupos de conjugação clássicos: Os verbos acabados em -ar, como falar; -er, como ser; e -ir, como sentir.
Estes mesmos grupos existem em espanhol (hablar, ser, sentir) e italiano (parlare, essere, sentire).
Depois a coisa complica-se um bocado mais no francês e sobretudo no romeno.
Mas porque é que isto é assim? Para percebermos de onde é que estes grupos de verbos vêm, temos de voltar à origem: o latim.
Em latim havia cinco conjugações:
A primeira terminava em -are, como o verbo amare - amar.
A segunda terminava em -ēre, com um E longo, como o verbo monēre - aconselhar.
A terceira terminava em -ere, com um E curto, como o verbo mittere - enviar.
A quarta terminava em -ire, como o verbo audire - ouvir.
E depois temos uma conjugação mista, que é como a terceira, mas com diferenças na primeira pessoa singular, e da qual é exemplo o verbo facere - fazer.
Tínhamos, portanto, cinco conjugações, cada uma com uma vogal:
A para a primeira; ARE
Ē longo para a segunda; ĒRE
E curto para a terceira; ERE
I para a quarta; IRE
E novamente, E curto para a quinta. ERE
Já no latim tardio, no final do Império Romano, a segunda, terceira e quinta conjugações, as que eram com a letra E, juntaram-se numa só, e mais tarde deram aquilo que seria a conjugação com -ER na língua portuguesa.
Portanto, dos 5 grupos originais de conjugação ficámos com os três que encontramos em português, espanhol e italiano: ARE, ERE, IRE ou AR, ER, IR.
No caso do francês a primeira e segunda conjugação ainda se juntaram, e é por isso que nesta língua os grupos que em português, espanhol e italiano acabam em AR, como falar e amar, em francês acabam em -er: parler, aimer.
Ou seja, no francês temos só os grupos -er e -ir, e depois temos um terceiro grupo para todos os verbos irregulares, como por exemplo os verbos perdre e prendre, que são verbos que sofreram uma troca de sons dentro de uma palavra.
Perdere transformou-se em perdre e prendere transformou-se prendre.
Quanto ao romeno… eles têm cinco conjugações, por isso é melhor deixarmos para outra altura.
Portanto, para as 4 línguas latinas mais faladas, tirando algumas particularidades do francês, vemos que os verbos acabam sempre (ou quase sempre) em AR, ER ou IR.
Então porque é que será que o verbo pôr, um dos mais comuns em português, não acaba em nenhuma destas terminações?
A origem está no latim ponere.
Uma característica do português medieval é que, em muitas situações, o som [n] entre vogais se perdeu:
Por exemplo, a palavra latina luna evoluiu para lua e o verbo latim tenere evoluiu para teer e depois ter.
Da mesma forma, o verbo ponere evoluiu para a palavra antiga poer, que depois evoluiu para pôr.
Ou seja, embora acabe em -or, o verbo pôr é na verdade da segunda conjugação, a que acaba em -er, e portanto conjuga-se como os verbos desse grupo.
Infelizmente, o grupo dos verbos que acabam em -er é o que tem mais verbos com conjugações irregulares, e o verbo pôr é um bom exemplo disso. Vejamos a conjugação no presente do Indicativo:
eu ponho
tu pões
ele/ela põe
nós pomos
vocês/eles/elas põem
Aqui podemos ver parecenças com outros verbos irregulares como ter e vir: eu ponho, eu tenho, eu venho.
E a semelhança entre estes 3 verbos ainda é mais notória no presente do conjuntivo, dado que esta forma verbal se forma a partir da primeira pessoa do indicativo, que nestes 3 verbos, como acabámos de ver, era igual.
que eu ponha tenha venha
que tu ponhas tenhas venhas
que ele/ela ponhas tenha venha
que nós ponhamos tenhamos venhamos
que vocês/eles/elas ponham tenham venham
O verbo pôr é um dos mais irregulares do português e requer algum estudo. No entanto, a boa notícia é que, quando dominares a conjugação deste verbo, terás também dominado a conjugação de uma data de outros verbos que derivam do pôr.
Estou a falar de verbos como propor, compor, impor, repor, dispor e expor, que basicamente se formam pegando no verbo pôr, adicionando-lhe um prefixo e retirando o acento circunflexo.
E conjugam-se exatamente da mesma forma que o verbo pôr:
eu proponho imponho componho
tu propões impões compões
ele/ela propõe impõe compõe
nós propomos impomos compomos
vocês/eles/elas propõem impõem compõem
Já agora, não te esqueças de que o acento circunflexo no verbo pôr serve para não o confundir com a preposição por, em que o O faz o som [u]: pôr, por.
Curiosamente, em algumas zonas do Brasil usa-se na linguagem falada uma forma simplificada do verbo pôr, que é o verbo ponhar, que se conjuga de forma regular, como os verbos acabados em -ar.
Mas cuidado, porque se usares o verbo “ponhar” em Portugal ninguém vai perceber o que estás a dizer!
O tema desta lição, tal como o do última que publiquei sobre o verbo dar, foi decidido pelas pessoas que me apoiam no Patreon, todos os meses.
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