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TRANSCRIÇÃO
Leo!
Eu!
O último vídeo que fizeste sobre como falar como um português está a ter imenso sucesso! Tens que fazer outro do mesmo género!
Gostava imenso de fazer outro parecido, mas aquele era um bocado longo. Agora vou fazer um mais pequeno sobre os “erros” que os portugueses cometem.
Não fizeste já um short sobre isso?
Sim, mas já foi há muito tempo atrás, e além disso num vídeo normal consigo falar sobre as coisas em mais detalhe.
Olá e bem-vindo de volta ao Portuguese With Leo e a mais uma lição rápida de português!
Se prestaste atenção ao pequeno sketch de introdução, terás reparado que houve 4 ocasiões em que cometi aquilo que teoricamente são considerados “erros” de português, mas que em Portugal são considerados corretos e é a forma como falamos no dia-a-dia.
Hoje vamos aprender quais são esses 4 “erros”, e se quiseres podes descarregar um PDF gratuito com o resumo desta lição e as explicações gramaticais, bem como algumas frases do dia-a-dia em que se usa aquilo que vamos aprender hoje. O link está na descrição.
1 - Tens que fazer outro do mesmo género!
Começamos com ter que.
No passado fiz um episódio muito completo sobre o verbo ter, o episódio número 38, no qual expliquei todas as utilizações deste verbo, incluindo a forma “ter de”, que significa ter o dever, a responsabilidade ou a obrigação de fazer alguma coisa. Equivalente ao inglês to have to.
Por exemplo:
Amanhã tenho de acordar cedo porque tenho uma reunião.
Pois bem, muitos portugueses, eu próprio incluído, dizem com frequência ter que em vez de ter de:
Amanhã tenho que acordar cedo porque tenho uma reunião.
Isto talvez aconteça por influência do espanhol, em que esta expressão se diz “tener que”, ou talvez porque foneticamente parece ser mais fácil pronunciar ter que em vez de ter de, em que temos de vibrar as cordas vocais para pronunciar o D.
Quem sabe!
Seja qual for o motivo, hoje em dia toda a gente usa tanto ter de como ter que, portanto se estiveres a aprender português, usa a expressão que te sair mais naturalmente porque é aquilo que nós portugueses fazemos.
2 - Gostava imenso de fazer outro parecido, mas aquele era um bocado longo.
Gostava imenso! Aqui o “erro” é a utilização do pretérito imperfeito - gostava - em vez do condicional - gostaria.
Teoricamente, em português, o pretérito imperfeito serve para falarmos de algo que acontecia no passado de forma contínua ou recorrente. Por exemplo:
Quando era criança eu fazia desporto todos os dias.
Já o condicional serve para exprimir coisas menos concretas, como um desejo ou algo cuja realização depende de outros fatores. Por exemplo:
Se eu tivesse mais dinheiro, viajaria mais.
Na frase que usei na introdução, “gostava imenso de fazer outro parecido”, estou a exprimir o desejo de fazer um vídeo parecido ao da semana passada, e portanto deveria usar o condicional e dizer:
Gostaria imenso de fazer outro parecido.
No entanto, em Portugal nós usamos o pretérito imperfeito nas situações em que se usa o condicional. Pegando no exemplo de há bocado:
Se eu tivesse mais dinheiro, viajaria mais.
Em Portugal é perfeitamente normal dizer:
Se eu tivesse mais dinheiro, viajava mais.
Mais uma vez, recomendo-te usares aquilo que te vier mais naturalmente, pretérito imperfeito ou condicional.
3 - Agora vou fazer um mais pequeno sobre os “erros” que os portugueses cometem.
Mais pequeno!
Se fores um falante nativo de espanhol, italiano ou francês poderá parecer-te perfeitamente normal dizer “mais pequeno” ou “mais grande” para aquilo que em inglês seria smaller ou bigger.
Más pequeño, más grande; più piccolo, più grande; plus petit, plus grand.
Mas o português não funciona assim. Em português as formas corretas são menor e maior. Pergunta a qualquer brasileiro e ele dir-te-á que “mais pequeno” e “mais grande” soa completamente errado.
No entanto, se perguntares a um português, ele dir-te-á que efetivamente “mais grande” soa completamente errado e ninguém fala assim, todos dizemos maior; mas “mais pequeno” não só soa correto como é a forma mais natural de se falar em Portugal. Ninguém diz menor, a não ser que estejamos a falar sobre matemática.
Ou seja, em Portugal dizemos que este livro é maior de que este, mas este é mais pequeno do que este.
4 - Sim, mas já foi há muito tempo atrás.
Finalmente, “há muito tempo atrás”.
Esta expressão é uma redundância porque quando dizemos que algo aconteceu há muito tempo, já está implícito que aconteceu no passado, e portanto é desnecessário dizer “atrás”.
É um pouco como dizer “subir para cima”, “descer para baixo”, “entrar para dentro” e “sair para fora”. Estas expressões são redundâncias (ou pleonasmos), que não só são desnecessárias como até podem ser mal vistas ou vistas como português “mal falado”.
No entanto, eu argumentaria que, tal como acontece com a expressão ter que, que originalmente era errada, mas hoje em dia muita gente a usa, a expressão “há muito tempo atrás“ também é muito comum e a maior parte dos portugueses usa-a sem se aperceber que é teoricamente um erro.
Talvez tenha aparecido por influência do inglês e da expressão “a long time ago”, e quem sabe se no futuro não será a forma standard de falar.
Enquanto esse futuro não chega, aproveita para descarregares o pdf grátis com o resumo desta lição, e se quiseres apoiar o Portuguese With Leo e ter acesso a conteúdos exclusivos, clica no link para o Patreon e aproveita o desconto de 15% na inscrição anual.
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