No episódio de hoje comparo as diferenças e semelhanças entre o português e o francês com o poliglota libanês Patrick Khoury
TRANSCRIÇÃO
Olá e bem-vindo de volta ao Portuguese With Leo!
No episódio de hoje vamos comparar o português e o francês a nível de gramática, fonética e vocabulário, portanto se fores um francófono a aprender português ou um lusófono a aprender francês, este episódio vai-te ser muito útil!
E fores simplesmente uma pessoa que quer saber mais sobre línguas, também vais gostar muito!
Para me ajudar tenho um convidado muito especial, o Patrick Khoury: um poliglota libanês que fala 14 línguas!
Bem-vindo Patrick!
Muito obrigado Leo pelo teu convite!
Tu falas muitas línguas e uma delas é o português. Como é que aprendeste português?
Como aprendi o português? Em 2006, resolvi aprender português porque na época eu já falava todas as línguas românicas, exceto o português e romeno. Mas resolvi escolher o português brasileiro, sendo a variante com maior número de falantes nativos.
Aprendi em, digamos, analogia com os outros idiomas românicos, que eu já sabia, portanto a aprendizagem da língua não foi tão difícil para mim. Ouvi muito para, tipo, internalizar o som melódico da língua, a entoação também. Em paralelo, falei com brasileiros aqui “em” Líbano, porque, não sei se tu sabes, mas temos uma grande comunidade brasileira aqui, “em” Líbano.
Não sabia! No Líbano!
No Líbano, no Líbano! Exatamente. Mas quando decidimos fazer este vídeo, há 3 semanas, acho, em português, comecei a ouvir o teu podcast, no Google Podcast, para, tipo, acostumar-me à língua, e agora digamos que estou apaixonado por esta variante!
A sério?
Sim, sim sim! Eu neste vídeo vou tentar falar como tu, mas claro que com erros, embora isso não importe!
Epá, fico feliz de saber que agora gostas de português europeu, muito bem!
Isto foi a tua história com o português, mas tu tens muitas mais facetas, e duas coisas que eu ainda não revelei sobre ti são que, a primeira é que também tens um canal de YouTube onde tens um vídeo mega viral onde falas acho que 12 línguas.
Eu lembro-me de ter descoberto esse vídeo há uns anos, antes de ter o meu canal de youtube, e já na altura foi uma grande inspiração para mim.
E a segunda coisa é que tu és o meu professor de francês, foi assim que nos conhecemos… e em que plataforma é que o Patrick dá aulas de francês?
No italki, que é o patrocinador deste vídeo!
Se segues o meu canal há algum tempo, não é a primeira vez que me ouves falar no italki, nem será a última, porque quando eu digo que só promovo serviços que uso e recomendo a 100%, estou mesmo a falar a sério.
Atualmente faço 3 aulas por semana no italki: duas de alemão, que é uma língua em que ainda não sou fluente, e uma de francês com o Patrick.
Hoje… então hoje fez bom tempo o dia todo. Fez sol, fez bom tempo e agora está um pouco nublado.
Embora eu já fale francês fluentemente, é uma língua em que ainda sinto que há muito a melhorar, e é precisamente por isso que o italki é tão bom: seja qual for o teu nível de língua, principiante, intermédio ou até avançado, consegues encontrar sempre o tutor ideal para ti, tal como eu consegui para alemão e para francês.
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Então vamos começar com a gramática, e a primeira coisa que vamos falar é a formação do plural.
Em português o plural é relativamente simples: adicionamos um S no final das palavras, e algumas situações em que adicionamos um -es, quando as palavras acabam em consoantes.
No consoante L, transformamos esse L em -is: papel → papéis, anel → anéis; e quando uma palavra acaba em M, transformamos esse M em -ns: comum → comuns, e depois há aquelas palavras que acabam em -ção, -são, -xão… o plural fica -ões. Em francês como é que é?
A regra geral para formar o plural de um substantivo ou adjetivo em francês, é adicionar um S no final das palavras; mas temos plurais irregulares, por exemplo as palavras terminadas em -al, como cheval, torna-se chevaux, cavalo; signal → signaux, sinal.
Temos também outras excepções, por exemplo, com X: un genou → des genoux. Un hibou → des hiboux.
E ainda há outra excepção, que eu lembro-me que quando eu descobri me deixou completamente… É uma coisa muito estranha, que é a exceção em que o plural de uma palavra fica ainda mais curta, por exemplo ovo → ovos.
Un œuf → des œufs. Ou, por exemplo, un œil → des yeux
Passando agora para os artigos, temos 4 artigos definidos: o, a, os, as. E temos 4 artigos indefinidos: um, uma, uns, umas.
Em francês temos le, la, les e o L apóstrofo (l’). Por exemplo la femme = a mulher; le pain = o pão, mesma coisa em português, mas temos l’arbre = a árvore, l’immeuble = o edifício; l’heure = a hora.
Ou seja, o L apóstrofo é aquela ligação fonética.
Exatamente! O H é completamente mudo, não se pronuncia, mas temos exceções por exemplo hibou, dizemos le hibou, não l’hibou; le haricot, não l’haricot.
Ou seja, existem alguma palavras em que esse H faz com que não se utilize o l’, e fazes le e depois a palavra que começa com vogal.
E em relação aos artigos indefinidos?
Em francês temos o un, que é um; e une, que é uma: ”J’ai un ami” = “Tenho um amigo”. “Elle a acheté une glace” = “Ela comprou um gelado”.
É muito parecido ao português no caso do singular, só no caso do singular, mas se o substantivo for no plural, a maioria das vezes não se usa em português, por exemplo “Je mange des fraises” = “Eu como morangos”, e não “Eu como uns morangos”, porque “uns morangos” quer dizer eu como alguns morangos, neste sentido.
E esse artigo é o que se chama partitivo, não é?
É partitivo, sim!
De, de la, du
E isso é uma coisa que nós não temos em português, ou seja, português é um pouco mais fácil, porque em francês usa-se o partitivo tanto no plural como tu disseste, “Je mange des fraises”, como no singular quando é uma coisa não contável, não é? “Je mange de la viande” ou “(Je mange) du poisson”. Em português é fácil, é só “Como morangos, como carne, como peixe”.
Uma coisa muito importante, nas outras línguas românticas, raramente colocamos um artigo antes do substantivo, em geral, mas em francês devemos sempre colocar.
O uso de um artigo partitivo de ou des antes do substantivo é imperativo em francês, na maioria dos casos.
Por exemplo “Dans ce quartier il y a de bons restaurants” = “Neste bairro há bons restaurantes”; “Il y a beaucoup de voitures ce soir” = “Há muitos carros esta noite”.
E há mais um que eu me lembrei agora que é em francês também se deve usar o artigo definido quando te diriges a um grupo de pessoas, por exemplo em português seria, “Olá amigos”, “Olá pessoal”, e em francês tem de ser “Salut les gars”, “Salut les amis”.
Por outro lado, em português, é obrigatório usar o artigo definido antes das pessoas, não quando falamos com elas, mas quando nos referimos a elas: “Eu vi o João”; “Eu falei com a Maria”, e em francês não.
Passamos às preposições. Existem muitas preposições, mas eu quero focar-me naquelas que se contraem com artigos. Em português isto é mais complicado, mas é mais regular. Só temos 4 preposições, que com os 4 artigos formam 16 contrações. As preposições são: a, em, de, por; e os artigos são o, a, os, as.
Em francês aquelas que se contraem são 4:
à + le = au
de + le = du
à + les = aux (com X)
de + les = des (com S)
Depois há duas preposições que são muito parecidas, mas que a forma como soam é o contrário uma da outra, que é: por, para, pour, par.
O pour francês é o para português, e o par francês é o por português. E portanto, na voz passiva, quando eu digo:
“Este bolo foi feito por mim” = “Ce gâteau a été fait par moi“.
“Estamos a fazer um vídeo para o YouTube”. = “Nous sommes en train de faire une vidéo pour YouTube”.
Vamos falar agora nas preposições de movimento e localização. Em francês usamos a mesma preposição para indicar o movimento, ou a localização.
Dizemos, neste caso, por exemplo: “Je suis en France” , ou “Je vais en France”. O en usa-se para os substantivos femininos, mas no caso dos masculinos dizemos “Je suis au Liban”, ou “Je vais au Liban”.
Ou seja, depende do género do nome do país.
Exatamente, depende do género. Enquanto que em português usa-se sempre a preposição em quando estamos no lugar sem movimento; e as preposições a, para, se houver movimento, independentemente do lugar, quer seja uma cidade ou país, não muda.
Por exemplo, “Estou em França”, “Vou a/ para a França”, “Estou em Paris”, “Vou a/para Paris”.
E para concluir as preposições, francófonos que estiverem a ver, não usem a preposição de depois de tentar e decidir. Em francês é essayer de e décider de, mas em português é tentar, decidir. “Eu tento falar francês” = “J’essaie de parler français”.
Há bocado falámos sobre uma coisa que era obrigatória em francês e não em português, que é o artigo quando falamos com grupos: “Salut les gars”, “Olá amigos”, e há mais uma coisa que é obrigatória em francês, e que não em português, que são os pronomes pessoais antes dos verbos.
Em português eu posso dizer “Sou o Leonardo, e sou português”.
Mas em francês: “Je suis libanais” e “Nous sommes tristes” = “Estamos tristes” por exemplo.
Vamos falar da colocação dos pronomes do complemento direto e indireto. É mais complicado em português do que em francês.
E sobretudo no português de Portugal.
Em francês, o pronome vem sempre antes do verbo, excepto no imperativo: “Je m’appelle”, “Je te vois”, “Je lui donne” mas no imperativo “Dis-moi”.
Em português de Portugal, por norma, vem depois do verbo “Chamo-me” “Vejo-te” “Dou-lhe” “Diz-me”, etc.
Só que depois existem casos especiais em que não é, e isso é que complica tudo.
Depois de alguns advérbios, por exemplo advérbios negativos: não, nunca; mas também advérbios como também, ainda, já. “Eu vejo-te”; “eu não te vejo” “eu nunca te vejo”, “eu também te vejo”, “eu ainda te vejo”, “eu já te vejo”.
Em frases interrogativas: “Quem te disse isso?” “Onde é que o viste?” “Porque é que o viste?” “Quando é que o viste?”.
E finalmente com pronomes indefinidos como alguém, ninguém, tudo, todos, nada. Por exemplo: “Ninguém o viu” ”Todos o viram”, ”Tudo o incomoda”, ou ”Nada o incomoda”.
Além disso ainda há a mesóclise, que é quando os pronomes vêm no meio do verbo, entre a raiz e a terminação. Só acontece no futuro e no condicional. Por exemplo, em francês “On se verra” = em português “Ver-nos-emos”; “On se verrait” no condicional = “Ver-nos-íamos”.
Mas antes de passarmos a conjugações verbais, já que estamos a falar de pronomes, há 3 pronomes franceses de que eu gosto muito, e que não existem em português. Em português é preciso arranjar outras formas de dizer isto, que é o y, en e dont.
O en refere-se a coisas de que estamos a falar. “On en avait déjà parlé” = “Nós já tínhamos falado sobre isso”. Ou falamos de algo, quantidades, e fico com algo de isso que já existe: Há três maçãs e “J’en prends une”, e “Eu fico com uma delas”.
Um exemplo pode ser, por exemplo: “Veux-tu du gâteau?” “Oui, j’en veux”; em vez de dizer “Oui, je veux du gâteau”.
Enquanto que o y usa-se para expressar um lugar onde vamos, onde estamos, por exemplo “Mon oncle vit à Londres”, “Il y vit” = “O meu tio mora em Londres”, “Ele mora lá”.
Ou seja, em português usa-se muito o lá para substituir o y, mas depois há outras situações, se não me engano, em que o lá já não é suficiente: “J’y ai fait allusion”. E em português teria de ser: “Eu fiz alusão a isso”.
E depois o dont também é um pronome que substitui muitas coisas que se podem dizer em português.
Então em francês, temos a palavra dont, o pronome dont, que substitui do qual, ou sobre qual em português, por exemplo, “La fille dont je t’avais parlé” = “A rapariga da qual / sobre a qual eu te falei”.
O dont ainda pode substituir em português cujo e cuja: “La fille, dont les cheveux sont noirs, est belle” = “A miúda, cujos cabelos são negros, é bonita”.
Passando agora então para a conjugação verbal, que é o último grande tópico da gramática. Começamos com o verbo mais usado.
Que é o verbo être.
Em português temos dois verbos para o verbo être: ser e estar. Eu já fiz um video a explicar com mais detalhe a diferença, quando é que se usa cada um, mas regra geral:
Ser é para coisas mais permanentes, ou mais características e inerentes à pessoa, ou a coisa; e estar é para estados transitórios, como estados de emoção, feliz, triste, estado de saúde, saudável, doente, localização geográfica, estar num lugar.
Em francês: “Je suis libanais”, “Je suis à Beyrouth”, ”Je suis content”
E em português: “Eu sou português”, ”Eu estou em Lisboa”, ”Eu estou contente”.
Outro verbo muito usado em francês é o verbo avoir, que juntamente com o verbo être são os dois verbos auxiliares, não é?
Na maioria dos casos usa-se o auxiliar avoir com os verbos. O auxiliar être usa-se normalmente com verbos que ligamos a diferentes ações relacionadas com uma casa. Esta casa, chama-se em francês “La maison d’être”. Alguns desses verbos são, por exemplo arriver, venir, partir, sortir, etc.
Por exemplo: “Je suis parti”; “Je suis sorti”; “Je suis resté”; etc.
E normalmente são verbos com movimento, não é?
Com movimento, normalmente. Mas não só com movimento. O auxiliar être usa-se também para a formação dos verbos que chamamos verbos pronominais, por exemplo, “Je me suis habillé”, “Vesti-me”, “Je me suis levé”, “Levantei-me”. É muito mais simples em português porque temos menos palavras para expressar a mesma coisa.
Exatamente! Em português só temos um verbo auxiliar que é o verbo ter, mas nas coisas no passado, a forma verbal que usamos, não implica nenhum verbo auxiliar.
Em francês usa-se o passé composé para falar no passado, portanto é necessário usar um auxiliar; em português usamos o que seria o passé simple francês, mas que nós chamamos pretérito perfeito:
“Je suis descendu”, “Je suis monté” = “Eu desci” “Eu subi”; “Je me suis lavé les mains” = “Eu lavei as mãos”.
Em português também temos uma versão com o auxiliar: “Eu tenho subido”, “Eu tenho descido”, mas não tem o mesmo significado, e isto é muito importante, porque é um erro muito comum que eu vejo, que é pessoas que querem dizer, por exemplo: “J’ai vu la vidéo”, e dizem “Eu tenho visto o vídeo”. Está errado!
Em português o “ter visto”, “ter feito” usa-se para ações que têm acontecido de forma recorrente nos últimos tempos: “Ultimamente, eu tenho estudado português” = “Dans les derniers temps, j’ai étudié le français”.
Uma coisa que temos em comum é que ambas as línguas evitam usar o gerúndio, aquilo que em inglês seria “I’m eating”. Em francês vocês em vez de dizerem “Je suis en mangeant”, dizem “Je suis en train de manger”, e em Portugal, e não em todo o país, mas na maior parte do país, em vez de dizermos “Estou comendo” dizemos “Estou a comer”. E outar coisa que temos em comum é o futuro.
Ambas as línguas têm a conjugação verbal no futuro, por exemplo em francês “je ferai” = “eu farei”, “je mangerai” = “eu comerei”. No entanto em ambas é mais comum a forma “ir + infinitivo”.
Por exemplo: “je vais faire” = “vou fazer” em português. A única diferença é com o verbo ir em português, porque não dizemos “eu vou ir”, dizemos “eu vou”, para dizer “je vais aller”.
Finalmente, para concluir a gramática, tem que se falar sobre o conjuntivo. O conjuntivo em francês é um bocadinho mais simples e em português é um bocadinho mais complicado.
Antes de mais nada, temos que explicar o que é que é o conjuntivo. É o modo verbal usado para expressar globalmente uma ação ou situação incerta, implica uma noção de possibilidade, uma hipótese, uma dúvida, um desejo, uma emoção, etc. Eu gosto de chamá-lo de modo virtual, exemplo “Je doute que tu montes”, em português seria “Duvido que tu subas”, “Je préfère que tu parles” = “Prefiro que tu fales”.
Em francês vocês tem esse conjuntivo, normalmente é introduzido pelo que: “Je veux que tu me dises” = “Eu quero que tu me digas”; e as utilizações desse conjuntivo, e a lógica desse conjuntivo são basicamente a mesma coisa em português e em francês.
O problema é quando começamos a entrar noutros conjuntivos, nomeadamente quando usamos o se, e o quando. Por exemplo, as frases que seguem a forma “Se isto, então aquilo”.
Começando no passado, vamos do passado para o futuro:
“Se eu te tivesse visto, ter-te-ia dito olá”.
“Si je t’avais vu, je t’aurais dit bonjour”
No presente:
“Se eu te visse, dir-te-ia olá”.
“Si je te voyais, je te dirais bonjour”
E depois no futuro:
“Se eu te vir, dir-te-ei / digo-te olá”.
“Si je te verrai, je te dirai bonjour”.
Também temos o futuro do conjuntivo com a palavra quando:
“Fazemos isso quando quiseres”.
“On fait ça quand tu veux”.
“Quando vires essa mensagem, liga-me”.
“Quand tu vois mon message, appelle-moi”.
Há muitas formas que em francês usa-se um tempo mais simples, e em português nós temos esta complexidade dos conjuntivos.
Tenho dois vídeos sobre o conjuntivo em português, portanto se quiseres compreender o conjuntivo a fundo, vai vê-los.
Ainda temos outro tempo chato e complexo, que é o infinitivo pessoal, que usamos em frases como “é importante” “é bom” “é necessário”:
“É importante fazermos vídeos ”.
“C’est important de faire…” Usamos o de.
Passando agora para o nosso tópico preferido, não é Patrick?
Fonética. Finalmente!
Fonética, sim.
Fonética vamos começar com a letra R que é a letra mais característica do francês. Em francês há um R, faz o som /ʁ/, e em português temos dois R’s: um R mais forte, que é semelhante ao R francês, que faz o som /ʁ/ também, e que algumas pessoas podem pronunciar em alguns sotaques com o som /r/, e o outro que é o R fraco ou o R suave, que é só /ɾ/.
E temos regras muitos específicas, para a utilização destes R. O R mais forte, utiliza-se no início das palavras, como na palavra rei, ou no meio da palavra:
- quando são dois RR como em erro;
- quando é um SR como em israel;
- quando é LR como em melro;
Ou quando é NR como em honra.
E de resto é sempre /ɾ/ como em palavra, casa, ser.
O R francês é muito mais simples, temos só um R, um som que é /ʁ/, como por exemplo frère, père, etc.
A dificuldade no R francês são nas palavras que têm muitos R’s, porque como nós temos dois R nunca temos muitos sons /ʁ/, mas em francês tens palavras como serrure…
Serrure, serrure, Exatamente!
Que são palavras mais difíceis de dizer.
E no sotaque libanês?
No sotaque libanês é /r/…
Ou seja, como é que tu dizes “serrure” com um sotaque mais libanês?
Serrure. Mère, père, frère.
A nível de consoantes temos quase os mesmos sons que são muito parecidos. Por exemplo o som /ʒ/, é igual em ambas as línguas.
Objeto.
Objet.
Gigante.
Gigantesque.
O CH também faz o som /ʃ/, em ambas as línguas.
Por exemplo, champanhe.
Champagne.
E nesta palavra temos também outro som que é igual, mas este já se escreve de forma diferente.
Champanhe: Escrevemos com NH o som /ɲ/, e em francês?
Com GN: champagne
Passando agora às vogais, aqui é que temos mais diferenças. O português é um pouco mais simples, temos 9 sons vogais:
- /a/, /ɐ/, /ɛ/, /e/, /ɨ/, /i/, /ɔ/, /o/, /u/
E em francês…
Temos 12:
- /a/, /œ/, /ɑ/, /ø/, /o/, /ə/, /ɔ/, /e/, /ɛ/, /i/, /u/, /y/
São muito, exato.
A única coisa que nós temos, que é um pouco mais complexo, são os sons nasais. Em português temos 9 sons nasais, temos as 5 vogais nasais:
- ã, en, im, om, um
E temos ainda 4 ditongos nasais:
- ão, ãe, õe, ui
O ui só existe na palavra muito, curiosamente.
Em francês há menos sons nasais, mas são mais intensos e mais prevalentes, não é?
Exatamente, existem 3 sons nasais em francês: /ɛ̃/, /ɑ̃/, /ɔ̃/. E em alguns sotaques ainda um quarto, que é /œ̃/.
Embora a nível de sons o francês seja mais simples, é mais difícil aplicar esses sons nasais na vida real, porque existem com muito mais frequência. Acabamos por usar mais sons nasais em francês, apesar de serem só 3.
A dificuldade no português é os ditongos: também, pão, cães.
Finalmente não se pode falar de fonética sem falar de uma coisa muito francesa que são as…
Liaisons. Liaisons é uma pronuncia de uma consoante final que não é pronunciada, quando a palavra é escrita sozinha. Essa liaison ocorre quando a próxima palavra começa com uma vogal, ou um H mudo.
Se a palavra terminar em S e se houver uma palavra que inicia com vogal, após a primeira palavra, o som S torna-se /z/: “Dans une maison” = “Numa casa”; “Les arbres” = “As árvores”.
E nesse exemplo que tu deste, nós também temos esse fenómeno em português. Em português também acontece isso, quando uma palavra acaba em S e depois a palavra seguinte começa com som vogal. Normalmente a palavra sozinha lê-se /ʃ/: “as árvores”, mas quando juntamos “A-z-árvores”, fazemos o mesmo som.
Certos sotaques fazem com o som /ʒ/: “A-ʒ-árvores”. No entanto em francês ainda há outra liaison, que é a dos sons nasais, não é?
Exatamente: “Aucun appel” = “Nenhuma chamada”. Lemos o som nasal /ɛ̃/, acrescentamos um N e lemos a próxima palavra.
Outra ligação é quando as palavras acabam em D ou T e a palavra seguinte começa com outra vogal, não é?
Exatamente, como por exemplo “Un petit arbre” = “Uma pequena árvore”; “Un grand enfant”. Mas também outras palavras terminadas em R, “Premier amour” = “Primeiro amor”.
Ou seja, em francês há esta necessidade de ligar palavras quando começam com vogal, e eu reparei que isso também afeta a forma como se escrevem palavras.
Porque em francês é extremamente raro ter duas vogais que se enfrentam, vamos dar uns exemplos:
“Ma amie” = “A minha amiga” torna-se “Mon amie”. “Meu amiga”, literalmente. Aqui neste caso usamos o pronome masculino em vez do feminino.
Um outro exemplo poderia ser, por exemplo “Nouvel épisode” = “Novo episódio”, em vez de dizer “Nouveau épisode”, que não é correto.
O português não tem nada disso, existe é uma pequena liaison, uma pequena ligação quando temos palavras que acabam em A e palavras que começam em A.
Por exemplo: “A amiga” fica “À-miga”; “Uma praia aberta”, é “Uma prai-à-berta”. Fica um só A aberto.
Passando finalmente ao vocabulário, existem algumas palavras, que são muito usadas, e que são quase iguais em português e francês, mas com algumas diferenças.
Começamos com sim e não. Em português dizemos sim e não, e se quisermos dizer um não muito permanente dizemos nunca.
Então, em francês temos o oui e o si, mas temos que fazer a distinção de ambas as palavras: o oui usa-se para responder a perguntas positivas por exemplo “Tu es là ?” “Oui je suis là.” = “Estás aqui?” “Sim, estou aqui”.
Enquanto que o si usa-se para responder a perguntas que contêm uma negação. Por exemplo “Tu n’as pas mangé ?” “Si, j'ai mangé” = “Não comeste?” “Sim, comi”.
Realmente, quem me dera que nós tivéssemos isto, porque se tu dizes “Não comeste”, e eu responder não ou sim, fica sempre aquela dúvida, se estás a responder que sim ou que não à minha pergunta, ou estás a dizer que sim comeste , ou que não não comeste .
Já o não, honestamente, acho que vocês complicam demais. Como é que é o não francês?
Em português dizemos, não quero, em francês seria “Je ****ne veux pas”. Neste caso, na maioria dos casos, usamos esta forma “ne + verbo + pas”, mas a palavra pas é omitida quando usamos palavras como jamais = nunca , personne = ninguém, aucun (nenhum), etc.
Por exemplo: “Je n'ai vu personne” = “Eu não vi ninguém”.
Ou então “Não tenho qualquer dúvida”. = “Je n'ai aucun doute.”
“Nunca vi esse filme” = “Je n'ai jamais vu ce film.”
E para além disso ainda têm o non, que é o não de responder a perguntas.
Existe outra coisa que curiosamente é muito parecida em ambas as línguas, que é o há. Nos usamos há para falar de coisas que existem, ou para falar de há quanto tempo é que alguma coisa aconteceu.
E em francês é exatamente igual, usa-se o il y a, para exatamente as mesmas situações.
“Il y a longtemps” = “Há muito tempo”.
“Il y a beaucoup de voitures” = “Há muitos carros”.
Agora vamos passar para uma das partes mais úteis deste vídeo. Nós sabemos que as nossas línguas têm relação, qual a forma mais rápida de, sendo um francês a aprender português, pegar nas palavras que já conhecemos em francês, e transformá-las em português.
Vamos começar com as palavras terminadas em -eux normalmente tornando-se -oso em português.
Fabuleux.
Fabuloso.
Délicieux.
Delicioso.
Prétentieux.
Pretensioso.
Agora as palavras terminadas me -ible, tornam-se -ível.
Horrible.
Horrível.
Sensible.
Sensível.
As palavras terminadas em -ion tornam-se -ão em português.
Articulation.
Articulação.
Nation.
Nação.
Réunion.
Reunião.
Em francês conservam-se certos sons do latim original, por exemplo as palavras action, direction, réception, que em português não existem, ação, direção, receção. Mas uma dica é: normalmente se em francês existe essas duas consoantes, CT, PC, então em português a vogal é aberta.
Nation tem um T, então em português é nação, vogal fechada.
Action tem um CT então em português é ação, vogal aberta.
É assim que distinguimos recepção de recessão, por exemplo.
Agora as palavras terminadas em -ité, tornam-se -idade.
Habilité.
Habilidade.
Identité.
Identidade.
Mas acidité.
Acidez.
Temos também as palavras terminadas em -aire, que tornam-se -ário.
Vocabulaire.
Vocabulário.
Propriétaire.
Proprietário.
Mais Partenaire.
Parceiro.
E depois ainda há mais uma que é, muitas palavras francesas têm um acento circunflexo, que indica a origem latina que continham um S, e em muitas situações a palavra portuguesa correspondente é igual, mas com esse S.
Hôpital.
Hospital.
Même.
Mesmo.
E finalmente, para acabar o vídeo vamos falar sobre falsos amigos, porque embora tenhamos estas palavras todas muito parecidas, há certas palavras que parece que é a mesma palavra, mas têm significados diferentes.
Un truc, parece ser truque, em português.
Mas truc francês significa coisa, em português, e truque, em português, significa astuce, em francês.
Attendre parece ser atender, em português, mas não é.
Attendre é esperar, e atender é…
Por exemplo, atender o telefone, uma chamada, atender uma pessoa.
É, atender em português é mais difícil traduzir, em português, exato.
Entendre, parece ser entender, mas não é.
Entendre é ouvir, e entender é, o nosso entender é o vosso comprendre.
Depois temos lettre, além de significar letra, numa palavra, significa carta, e carte não é carta.
É mapa.
Também outra muito parecida, mas também tem significado muito diferente, é depuis que parece depois.
Mas é desde.
Outra que no início me fazia um bocado de confusão, quando comecei a aprender francês: avoir envie. Parece que é ter inveja.
Mas não é, é ter vontade.
Mas envier é invejar.
E não enviar.
Enviar é envoyer.
Temos uma palavra muito engraçada constipation. Eu gosto muito dessa palavra, desse falso amigo, não é constipação, constipation.
Em Portugal, uma constipação é uma inocente constipação, apanhaste frio, tens o nariz tapado, e tens um bocadinho de tosse.
Avoir un rhume.
E isso é a constipação portuguesa. Mas a constipation é outra coisa.
É a obstipação.
Exatamente, que é quando o intestino não tem o seu movimento, não tem a sua motilidade normal, e nós até temos uma expressão para isso: “Prisão de ventre”.
E com esta concluímos.
Muito obrigado Patrick.
Muito obrigado a todos os meus patrons que me apoiam todos os meses. E se gostaste deste vídeo, vais adorar este aqui sobre as palavras portuguesas que vêm do francês!