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Ep. 54 - Português vs. Galego

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Ep. 54 - Português vs. Galego
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A primeira vez que li em galego pensava que estava a ler em português. E a primeira vez que ouvi galego pareceu-me português com sotaque espanhol. Porque é que estas línguas são tão parecidas assim? Para descobrir, convidei o Mario do canal de Youtube olaxonmario.



TRANSCRIÇÃO:


Vou-vos contar uma história que aconteceu na minha adolescência há mais de uma década. Sim, deixei de ser adolescente há mais de dez anos, o tempo passa a correr.


É uma história curtinha e vai ser um pouco mal contada porque eu não me lembro bem dos detalhes, mas basicamente estava eu com o meu pai a pesquisar já não sei o quê na internet, e por internet refiro-me ao Google.


Quando clicamos numa das primeiras opções que nos aparece e começamos a ler o que estava escrito e demorámos umas três ou quatro linhas de texto a perceber que aquilo que estávamos a ler não estava escrito em português mas sim em galego.


Olá a todos e bem-vindos de volta ao Portuguese With Leo.


Porque é que eu acabei de vos contar esta história não muito interessante e sem grande conclusão? Porque hoje vamos explorar as semelhanças e diferenças entre o português e aquela que é língua mais parecida com o português, o galego. E esta história ilustra na perfeição o quão parecidas estas duas línguas são. E porque é que estas duas línguas são tão parecidas assim, perguntam vocês?


Pois bem, para percebermos isso vamos ter de andar para trás no tempo e aprender um pouco sobre a história linguística da Península Ibérica.


A Península Ibérica é a península situada no canto Sudoeste da Europa, separada do resto do continente pelos Pirinéus, e está dividida entre três países: Portugal, Espanha e Andorra. Quatro se contarmos Gibraltar, que pertence ao Reino Unido.


Esta parte do mundo já foi habitada por muitos povos diferentes desde há milhares de anos, mas para percebermos a relação entre o galego e o português, interessa-nos a altura em que estiveram cá os romanos, mais ou menos entre o ano duzentos antes de Cristo e o século cinco depois de Cristo.


Entre outras coisas, os romanos deixaram-nos a sua língua, o latim, nomeadamente o latim vulgar, que é o nome dado ao conjunto dos dialetos vernáculos falados nas províncias ocidentais do Império Romano, como era o caso da província Hispânia, que é onde é a atual Peninsula Ibérica.


Mesmo após a expulsão dos romanos da Península Ibérica, o latim continuou a ser a principal língua aqui falada, e à medida que novos reinos se foram formando e novas fronteiras foram sendo desenhadas, os diferentes tipos de latim vulgar foram-se desenvolvendo e alterando, formando as diferentes línguas provenientes do latim faladas na Península Ibérica, conhecidas como línguas ibero-românicas.


Ora, uma destas línguas, que se formou por alturas do século nono, era precisamente o galego-português, uma língua única falada no Noroeste da Península Ibérica, onde atualmente está a Galiza e o Norte de Portugal.



Esta língua única só se dividiu em duas línguas, português e galego, no século treze, cerca de um século depois de Portugal se ter tornado um reino independente, quando finalmente ficou decidido, em Portugal, que o português, língua do reino de Portugal, seria a língua oficial.


Mais tarde, no século quinze, a Galiza foi incorporada pelo reino de Castela, a atual Espanha, e desde então o galego também tem sofrido influências do castelhano.


Isto significa que o português e o galego foram a mesma língua durante pelo menos quatrocentos anos, e só passaram a ser duas línguas diferentes há cerca de setecentos anos. Por isso é que são tão parecidas.


Mas para percebermos o quão parecidas estas duas línguas realmente são, precisamos de alguém que fale galego, e por isso convidei o Mario do canal de YouTube Olaxonmario.


O Mario é um galego de gema e um defensor acérrimo da língua galega e do reintegracionismo galego, e ele vai-nos explicar algumas das características gramaticais, lexicais e fonéticas do galego, vai-nos explicar um pouco o que é o reintegracionismo galego, e no final ele tem umas palavras e expressões galegas para eu tentar adivinhar o significado.


E claro, a nossa conversa vai ser sempre nas nossas línguas maternas. Eu vou falar sempre em português e o Mario vai falar sempre em galego.


A nossa conversa depois continua no vídeo no canal dele, portanto, se gostarem deste vídeo e quiserem aprender mais sobre as diferenças e semelhanças entre o galego e o português, vão ver o vídeo no canal do Olaxonmario.


Bom dia Mario, bem-vindo ao Portuguese With Leo.


Olá, bom dia, como é que estás?


Eu estou ótimo e espero que tu também, e antes de mais nada gostava que te apresentasses aqui para as pessoas que não te conhecem.


Bom, pois, eu sou o Mario e tenho um canal no YouTube que se chama Olaxonmario onde falo geralmente sobre cultura, focado numa ótica galega porque obviamente eu sou um galego-falante, é sobre cultura e línguas, geralmente.


Olha Mario, nem de propósito, eu não sabia que tu ias usar uma t-shirt vermelha, eu também não escolhi de propósito, mas, por acaso, uma pergunta que eu te queria fazer é, em francês, em espanhol, em italiano, a palavra "vermelho" diz-se "rojo", "rosso", "rouge". Em português diz-se "vermelho", que não tem nada a ver. Em galego, qual é que é?


Obviamente, muita gente no seu dia a dia hoje usa a forma espanhola "rojo", por pressão linguística do espanhol, ainda que "vermello" seja a forma correta em galego. Outro termo que também é muito usado é o "encarnado". Eu de facto acho que ouvi poucas vezes as minhas avós a referir-se a esta cor de outra maneira, diziam sempre "encarnado".


"Encarnado" também se usa em português, eu uso mais "vermelho", acho que "vermelho" é o que mais se usa mas, "encarnado" também é uma palavra que também se usa muito em Portugal. "Encarnado" vem da cor da carne. Eu tinha aqui umas perguntas que te queria fazer sobre a fonética do galego. Das poucas vezes que ouvi galego na minha vida, sempre me pareceu português com sotaque espanhol.


Ora bem, é que obviamente é isso, é a tendência é que o galego mimetize mais a fonética espanhola por pressão da língua hegemónica que é o espanhol.


Mas, com palavras muito mais portuguesas do que espanholas.


Exato, o léxico é hoje em dia quase idêntico ao do português de Portugal.


Eu tinha assim umas perguntas sobre certos sons. Eu já percebi que vocês, o "c" dizem como os espanhóis, o "/θ/", não é?


No galego normativo, na norma aprovada, na norma que se usa hoje em dia, ou como oficial, sim, é coincidente com o "c" espanhol, mas eu concretamente, sou da costa e aqui temos um fenómeno que é o "seseo", então confundimos o fonema "/θ/" com o fonema /s/, então dizemos sempre /s/, não dizemos "cinco", que seria em galego normativo, mas sim "sinco", nem "zapato", dizemos “sapato".


Também queria saber sobre o "ch" ou dois "l's" (ll). Por exemplo, "chuva" e "chover", como é que vocês escrevem e dizem?


Ora bem, o "ch", claro, em português o "c" confunde-se o som do "ch" mais do "x". Há aí uma conversão no português e então é quase coincidente, mas em galego não, o "x" é "/ʃ/". E o "ch" é "/tʃ/". Como por exemplo "chover" é "tchover", não "shover".


Ok, depois também o dois "l's" (ll) ou "lh", como é que vocês escrevem e como é que vocês pronunciam?


Escrevemos um "l" duplo (ll), em vez de "lh" ou "lh"  como geralmente se diria em galego porque "hache" é como seria a letra em espanhol, não se diz "agá".


Claro.


Escrevemos com dois "l's" (ll). Antigamente sim, conservava-se a pronúncia que também há no catalão de realmente um "l" duplo (ll) que seria "muller", em vez de "mu/ɟ/er" como dizemos hoje em dia.


Ok, e agora dizem "muller"? Sim, "muller", /ɟ/... Com dois "l's"?


Sim, com dois "l's" (ll), dizemos "muller".


Eu estou a reparar também que tu, quando há um "j" em português, vocês usam "x". "Hoxe", não é? "Hoje"? Mas palavras com "g", tu dizes "/ʁ/", "Portu/ʁ/al".


Essa também é outra característica da minha zona, que se chama Gheada. Geralmente, no galego normativo, e na maioria da área geográfica galega, dir-se-ia "gato", mas nós dizemos "ʁato". Mas, no galego, o "j" ou lá como se diz, não existe no alfabeto galego, é sempre "x".


Claro. Depois também o "nh" ou "ñ", vocês..


No galego normativo escreve-se "ñ". Realmente o "ñ" também é propriamente galego, mas na norma do galego reintegrado utiliza-se também o "nh".


Já vamos falar daqui a bocado do galego reintegrado, exatamente.


No galego reintegrado, obviamente, usa-se o "nh".


Há uma coisa muito típica, uma diferença muito.. que aparece em muitas palavras do espanhol e do português, que é, em muitas palavras portuguesas, a versão espanhola é.. quando digo espanhola estou a dizer na língua castelhana. É igual, mas o "o" fica "ue", o "e" fica "ie" e o "ei" fica "e", por exemplo, "porto" ou "porta", fica "puerta" ou "puerto".


"Merda".


"Merda", aí está, fica "mierda", em espanhol. Ou "quero", "eu quero", fica "yo quiero". E depois com "ei" fica "e", tipo, "primeiro" - "primero", "terceiro" - "tercero", etc.

O galego, qual, para qual dos lados é que vai?


O galego, acho que quase que na total maioria, há alguma exceção, mas na total maioria é igual ao português. É "porto", não é "puerto", é "merda", não é "mierda", "mierda" é em espanhol. É "ferreiro" não é "ferrero".


Pronto, já vimos a fonética, agora o que eu te queria perguntar era, eu fiz um vídeo sobre o "vós", como é que é a situação do "vós" no galego?


É, ora bem, o "vós" é a forma hegemónica do galego, tal como era antigamente no Norte de Portugal, ainda que hoje o seu uso está em claro declínio, não? No tratamento formal, em galego, nas situações formais, usa-se o "vostede", em singular e "vostedes" em plural.


Ou seja, no galego é muito claro e muito definido. "Ti", uma pessoa, "vos", várias pessoas, informal. "Vostede", uma pessoa, "vostedes", várias pessoas, formal.


E é sempre assim.


No tratamento formal, em galego, usa-se o "vostede", "vostedes" em plural, ainda que obviamente, nestes contextos formais, usa-se geralmente o espanhol devido à imposição linguística desta língua como a língua de poder. Mas no Sul de Espanha, o pronome "ustedes", que seria o "vocês", em espanhol, também tem um uso muito mais estendido que o "vosotros" que é geralmente o pronome que se usa no espanhol.


Mas deu-se a casualidade que no estado espanhol a capital assentou-se mais ao Norte e promoveu-se a prevalência do "vosotros". Em Portugal aconteceu o contrário, a capital assentou-se no Sul e prevaleceu o "vocês" em vez do "vós". Se a capital fosse no Porto, provavelmente prevaleceria o "vós" sobre o "vocês". Este é um exemplo bem claro de como, no final, regiões linguísticas respondem ao poder

político.


O português e o galego, como nós já vimos e como eu expliquei no início, vem da mesma língua, até  cerca do século treze, portanto, não há assim tanto tempo éramos a mesma língua, mas o português espalhou-se até ao Sul da Península Ibérica, que é uma zona que teve muita influência árabe, e o galego manteve-se no Noroeste da Península Ibérica onde os muçulmanos não chegaram. Não chegaram, que eu saiba.


A minha pergunta é, vocês têm influência árabe, ou não, ou se têm, é porque houve muçulmanos na Península Ibérica ou é posterior, do espanhol?


Ora bem, tem-se defendido muito a influência árabe para defender a diferença do galego com o português. Fala-se de que teria havido um substrato árabe que teria modificado muito a fonologia portuguesa, mas hoje em dia, isto está demonstrado que não foi assim.


As variações fonéticas portuguesas devem-se a outros fenómenos. Ainda que é certo que a influência árabe no galego foi quase nula. Além de palavras que vieram através do português ou do espanhol como "almofada", "alcalde", "arroz", "azucre" ou "aldea", que todos conhecemos hoje em dia. Há um ou outro caso isolado onde em português emprega-se a palavra de origem árabe e em galego emprega-se a palavra de origem românica como, por exemplo, em "alface" que nós chamamos sempre "leituga". Mas estes são casos muito pontuais.


Vocês têm uma versão de "oxalá", "ojalá"?


Sim, "oxalá".


Finalmente.. finalmente não, depois eu vou tentar adivinhar umas palavras galegas, mas antes disso queremos saber, assim, sem entrar assim em demasiados detalhes, o que é que é o Reintegracionismo galego?


O Reintegracionismo é um movimento com uma ampla história que busca a reunificação da escrita galega com a portuguesa, seguindo uma lógica histórica, linguística e fonética. Este movimento ganhou mais força em finais dos anos 70 devido ao comércio da implantação de uma nova norma para o galego. Assim, durante o Franquismo estava proibido o seu ensino e o seu uso na vida pública.


A norma reintegrada do galego não conseguiu ser oficial, tendo-se assim aprovado a norma atual, ignorando qualquer critério linguístico e aprovando uma norma que é quase semelhante à espanhola, de modo a que esta norma não prejudicasse a aprendizagem do espanhol que, obviamente era a língua do poder, era a língua que importava que as crianças aprendessem. E basicamente é isso o Reintegracionismo, um movimento que procura a reintegração da escrita galega com a portuguesa.


Finalmente, para acabar, eu pedi-te para reunires umas quantas palavras e expressões galegas para ver se eu consigo adivinhar. Podes dizer com o sotaque que quiseres, o teu sotaque. Até podes dizer com o teu sotaque que é para ser mais... com o "seseo" e com o "/ʁ/" que é para ser mais...


Mais "enxebre".


Mais quê?


"Enxebre". Sabes o que é "enxebre", não?


Não, já começa.


Não escolhi essa palavra mas.. "Enxebre" é como algo muito autêntico.


Mais autêntico, exatamente.


Tenho aqui várias, acho que tenho iguais, expressões e palavras assim. A primeira expressão que tenho é "non ter ningunha malla preta".


Não ter nenhuma, eu não percebi se é "meia" ou "malha".


"Malla" com "l" duplo.


Vou supor que é "malha". Ok, não ter nenhuma malha preta, fogo. Uma malha é um tecido, não é?


Não.


Acho que é a mesma coisa. Não, pronto, já fui. Não ter nenhuma malha, malha preta. Pá, não consigo pensar em nada, em nenhuma expressão portuguesa ou espanhola que tenha alguma coisa a ver com isso, portanto não sei.


"Non ter uma malla preta" é, por exemplo, quando vais apanhar uma maçã da árvore, ela está completamente limpa, não tem nenhum verme nem nenhuma mancha nem nada. Ou seja..


Ah, é quando uma coisa está limpa, ok, já percebi. Imaculado, não tem mácula, quer dizer que está limpo. Se calhar é "malla".

Que não tem nenhuma imperfeição nem nenhuma..

Exato.


Ora bem, a seguinte é "outra vaca no millo".


Outra vaca no milho? Milho, é o que eu estou a pensar, "maíz"?


Sim.


Ok. Outra vaca no milho? É tipo.. é assim, a vaca, que eu saiba, não percebo muito de agricultura nem de criação de animais, mas a vaca não devia estar no milho, devia estar a pastar por isso, é uma pessoa que está no sítio errado, não sei. Uma pessoa que não pertence, está ali, mas não devia estar, não pertence.


Poderia, faz sentido o que dizes, mas não é concretamente assim. Quer dizer que é, por exemplo, há muita gente que começa a aderir a uma moda ou algo assim, então, alguém que conheces também começa a fazer isso. Então, "ah, pronto, outra vaca no millo". A próxima é "caer da burra".


Cair da burra, estás em cima de uma burra e cais, de uma mula ou de uma.. ok. Estou a ver que as vossas expressões são muito, muito do campo.


São expressões populares, na verdade, utilizam, eu acho que todas se utilizam quase diariamente por todos os lados.


A sério? Cair da burra... Tens que me dar uma pista que isto é muito difícil.


"Caer da burra".. é que se te dou uma pista, digo-te o que significa. Significa no sentido de uma mudança  de estado, tipo, estás na burra e de repente cais.


Ok ok. Fiquei um bocado.. ou seja, cair da burra é tipo, quando.. "cair na real", se calhar, nós dizemos "cair na real". É tipo, quando te apercebes de que uma

coisa.. quando ganhas noção.


Sim, é parecido, é assim. É como quando estás num estado de inocência sobre algum tema ou assim e de repente cais na burra, cais da burra e apercebes-te do que realmente acontece.


Exato, em português temos "cair na real", se não me engano, sim.


A seguinte é "chámame porco e bótame de comer".


Então espera, chama-me porco e bota-me de comer, ok, e bota-me de comer, bota-me.. tipo, dá-me de comer, é isso? Tipo, dá-me comida.


Sim.


Não consigo imaginar uma situação em que se use esta esta expressão.


"Chámame porco" é no sentido em que falas mal de mim.


Ok, tu dizes isto a outra pessoa? Ou dizes isto assim para o ar?


A outra pessoa, ou para o ar.


Ok. É tipo.. "Trata-me mal mas cuida de mim", é tipo, se alguém cuidar de ti, pode tratar-te mal à vontade.


Sim, nesse sentido é algo parecido a isso porque, por exemplo, não te importa que o teu chefe te trate mal desde que te pague.


Exatamente, ou seja, desde que, desde que me pagues, me dês de comer, podes dizer as porcarias que quiseres.


Sim, podes dizer o que quiseres sobre mim.


Agora são palavras.


Ok, palavras.


A primeira palavra é "arroutada".


"Arroutada", isso parece... Isso é um adjetivo?


Não. Bem, pode ser, pode ser alguém que é muito "arroutado" ou "arroutada".


Eh pá, não sei. Está difícil.


Ora bem, obviamente estive a escolher palavras que não fossem coincidentes com o português.


Claro, claro, pois.


Uma pessoa que é muito "arroutada" é alguém que está tranquila e de repente dá-lhe uma coisa e faz algo que ninguém estava a contar que fizesse, algo muito rápido. Por exemplo, estou em casa muito tranquilo, e de repente vou para a Rússia. Tipo, deu-lhe uma "arroutada" e foi para lá.


Ah, dizes "deu-lhe uma arroutada e foi".

Sim.

Eh pá, nós temos uma palavra que é bué estranha porque, não sei, soa estrangeiro, mas tipo, não é, não vem de nenhuma palavra, não vem de nenhuma palavra estrangeira, mas dizemos "deu-lhe um vaipe".


Como?


"Vaipe". "Vaipe". V-A-I-P-E, "deu-lhe um vaipe".


"Deu-lhe um vaipe".


"Deu-lhe um vaipe" e foi fazer qualquer coisa imprevisível.


Sim, mais ou menos o mesmo sentido.


Ok.


A seguinte é.. esta é a típica que toda a gente usa, "bico".


Sabes o que é que é "bico" em Portugal?


Óbvio.


Ah, pronto. Porque isto aqui é uma que, eu fiz uns vídeos sobre o português do Brasil, e ao que parece "bico", no Brasil, é um trabalho, é um "biscate", em Portugal dizemos "biscate" que é um trabalhinho assim temporário para ganhar uns trocos. Mas em Portugal um "bico" é o sexo oral que se faz aos homens. E, portanto, se vocês dizem isso na Galiza deve ser muito engraçado. Calculo que seja uma coisa diferente.


Sim, é uma coisa diferente. Um "bico" é, bem, em galego, a forma oficial é "bico", mas no Sul também podem dizer "beixo".


Ah, ok, é um beijo. Sim. Até está relacionado com o "bico" português.


Não, acho que não tem nenhuma relação, mas pronto.


Depende de onde se der o beijo.


Depende de onde.


Pronto, ok, vamos voltar a ser sérios.


E por último, tenho "seica".


"Seica", "seica", fogo, isto parece japonês pá. "Seica", "seica" não é o mesmo que "seca"?


Não. "Seca" é "seca".


Preciso que uses numa frase.


"Seica Luis vai viver em Barcelona".


Ah, "sei que".


Sim.


"Sei que", ok, está bem, está bem, é isso?


Sim, é parecido, é como afirmar algo de que não tens completa certeza de que vai acontecer.


Ah, não tens a certeza?

Não é, "seica vai ir a algum sítio", assim.

Ah, é que para mim parece o contrário porque em português dizemos "sei que", é tipo "sé que", em espanhol.


Podia ser, sim.


Uma coisa que eu sei.

Mas não, é o contrário, é algo de que não tens completa certeza.

É tipo "acho que", em português.


Sim, "acho que".


"Acho que", ok. Essa nunca ia chegar lá. Eu nem.. não, nunca.


Olha, muito obrigado por estas palavras que eu desconhecia e por essa explicação toda sobre o galego. Obrigado a todas as pessoas que sugeriram este tema, recebi alguns emails de pessoas que queriam que eu falasse sobre o galego, que me enviaram, não foste o único a enviar-me vídeos daquele senhor, o presidente da associação...


AGAL, Eduardo Maragoto, o presidente da AGAL. Quero agradecer à AGAL e ao Eduardo Maragoto pela ajuda para preparar este vídeo, e também à "Através Editora" que é a editora da AGAL que edita livros em galego reintegrado, também pelos seus agasalhos e também pelo seu apoio.


Muito obrigado, obrigado Mario, até para a semana.


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