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Ep. 35 - Português Angolano: Palavras típicas

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Ep. 35 - Português Angolano: Palavras típicas
00:00 / 15:08

Neste episódio junto-me à Liz do canal Talk the Streets e ao Gerson Marta para aprender um pouco sobre o português de Angola e tentar adivinhar palavras angolanas.

No final o Gerson canta uma música angolana.



TRANSCRIÇÃO:


Olá a todos e bem-vindos de volta ao Portuguese With Leo!


Hoje temos a nossa habitual convidada dos vídeos de línguas de diferentes países, a Liz, e temos aqui o Gerson que é de...


Angola!


Angola, portanto hoje vamos falar um pouco sobre o português de Angola.


Oh yeah!


Gerson, tu és de onde, exatamente?


Eu sou de Luanda, nascido e crescido em Luanda e estou aqui em Portugal desde 1999. Já estou aqui há alguns anos, mas Angola é mais forte, e na linguística então, acho que já notaram.

O sotaque, eu acho que sim. Tu tens aí umas palavrinhas para nós adivinharmos.


Ya, eu preparei aqui... o "ya", estão a ver? Sabem, o "ya", não sei se vocês sabem sobre isso, o "ya" foi trazido para o português de Portugal só no final dos anos, na altura dos anos 90, para aí.


Pois, eu digo muito "ya".


Toda a gente diz "ya", mas primeiro foi adaptado do inglês. Em Angola passou-se a usar por causa dos filmes em inglês de ação e não sei quantos, então passou-se a usar o "ya". Depois, com a imigração de bué de angolanos que vieram para cá em... nos anos 90 ou o quê, depois de a guerra rebentar a segunda vez, então começou a dizer-se muito "ya" e eles trouxeram o "ya" para aqui e agora toda a gente diz... Ya! Ya, ya, estás a perceber? Que foi do inglês para o português de Angola e de lá para aqui.


Olha, e a palavra bué, que tu também usas? Também é de Angola, não é?


Bué é do kimbundu. Significa "muito" em kimbundu.


Ok, e nós usamos é toda a hora, aliás eu nem, para mim é uma palavra 100% portuguesa. Para a minha geração, pelo menos.


Exato. Quando eu cheguei a Portugal em '99 ninguém dizia "bué", não era uma coisa que se dizia, foi no princípio dos anos 2000 que passou a ser, e eu lembro-me dos cotas ficarem bué chateados.


Exato! Tás a ver! Exatamente!


O que é que eu disse agora?


"Bué", eu estou atento.


Eu disse uma outra coisa.


Ah mas essa nós também usamos. Os cotas.


Cota, que vem do kimbundu dikota, "mais velho".


A sério? Olha, eu estou a descobrir imensas palavras que eu tomava por garantidas, achava que eram 100% portuguesas: cota, bué, ya, e vem tudo do angolano.


Mas tenho uma pergunta sobre a palavra bué, porque eu uso nos meus vídeos e tenho comentários e dizem: "Não, é só uma coisa que o adolescentes dizem!" Mas eu já ouvi bué de pessoas dizer essa palavra. Vocês não são adolescentes, pois não?


Eu tenho 40 anos, não sou adolescente. Eu pareço adolescente? Obrigado! Mas não!


Não, e se calhar quando isso começou, os adolescentes  diziam, mas os adolescentes dos anos 90 agora têm 40 anos, por isso...

Exato, já não é a mesma história.


É bué usado.


Mas olha, em Portugal diz-se um bocadinho diferente. Quando tem muitas pessoas nós dizemos que tem bué de gente ou são bué de amigos e não... aqui eu já ouvi muita vez dizerem bué amigos ou bué gente.


Dizemos os dois, ou bué ou bué de, dizemos os dois.

Por exemplo, dizeres bué gente aqui em Portugal significa que tem muita gente.


Em Angola se disseres bué gente, dizes que essa pessoa é muito... é uma grande pessoa! No bom sentido, esse gajo é bué gente. Esse é bué pessoa!


E por exemplo, se quiseres dizer que há muita gente dizes: Bué de gente. E aí estás a dizer que tem muitas pessoas.


E em Portugal também existe o contrário, por exemplo, para dizeres que alguma coisa tem uma característica de ser muito boa, dizes bué de fixe. Nós tiramos o "de" aí, dizemos "O mambo é bué fixe".


Então nós trocamos.


Vocês inverteram o sentido da coisa.


E tu disseste "o mambo é bué fixe".


E eu acabei de dizer "o mambo", que significa "coisa". Eu preparei-te aqui umas palavras e ainda não disse nenhuma delas.


Boa, boa!


Então tá-se bem, né? "Wi" quer dizer alguém, tipo aquele "wi", aquela pessoa ou aquela "wi". Também pode ser wey. "Ah, esse wey aí!"


Isso parece mexicano!


Ya, pois é!


Estás a ver, afinal temos uma connection!


Qué onda wey!


No México eles usam wey como meu. "Então meu?"


Não fazia a mínima ideia, afinal existe uma conexão entre Angola e o México.


Já viste? Wey, vocês dizem wey?


Wey, wi, depois o clássico famoso em Angola é o mwadié.

Mwadié?


Ya, mas é tipo mwadié, que é gajo, ou gaja. Essas coisas, esse pessoal que diz "esse gajo, essa gaja, blá blá blá", que é o mwadié. Mas voltando à coisa de português. Mano, I digress! A sério!


A forma como o português de Angola aparece, ele vem diretamente de uma ligação com as línguas nacionais de Angola. As palavras que estávamos aqui a usar: bué, baza e não sei quantos, isso tudo vem da língua nacional do kimbundu, "baza", por exemplo.


Exato, nós também usamos muito.


"Baza" vem do "kubaza", que é "irmos embora", então vem dali a expressão. E são bué de línguas e, o que acontece é que isso... o português de Angola de certa forma, tipo, aquilo que nós chamamos de calão, que são os bazas e os bués, não devíamos chamar bem calão, é a evolução natural da língua, estás a ver? Que apanhou as línguas nacionais de Angola e tornou-se nessas expressões que agora usamos todos no dia-a-dia.


E fun fact: o português só passou a ser institucionalizado mesmo em Angola com força nos anos 50, para aí, porque antes era mais...


Só algumas pessoas é que falavam.


Só algumas, ya, eles tentaram nos anos entre o final do século XVIII, início do século XIX impor a língua portuguesa mas sem grande sucesso. É no final do século XIX, início do século XX, que conseguem realmente fazer com que a língua portuguesa fosse imposta em Angola. E não admira, parece que não, mas isso é muito pouco tempo, é bué recente.


Pois é, porque depois, 20 anos, 20 anos mais tarde mais ou menos, Portugal saiu de Angola.


Ya, para aí, em relação aos anos 50, saiu.


Então tu tens bué de people lá na Nguimbi que tá a fazer os mambos de forma tipo wawé.


Eu não percebi nada dessa última frase!


Eu também... Tens bué pessoas que estão fazer a cena... e não percebi o resto.


O resto não foi... mas ele percebeu, percebeste o sentido da coisa.


Pois.


Mais ou menos.


Gerson, tens aí umas palavrinhas.


Ahá, já! Tás lixado, agora é que é!


Vamos lá, vamos tentar adivinhar!


Eu tenho aqui umas quantas palavras, deixei aqui umas muito fixes porque eu sou um gajo simpático.


Ok.


Mambo.

Os mambos já percebi que é coisa, não é?

Haha, aplauso! É daquelas fáceis.

Para mim parece alguma coisa musical, eu tava a pensar...

Mambo No. 5?

Pois!


Ya, o mambo podia ser esse bizno. Bizno.

Bizno? Bizno vem de business, de certeza, não é? É esse negócio, como no Brasil "esse negócio". É coisa também.

É! É uma coisa, é, bizno!

É business.

É como negócio, é a mesma coisa.


Dikota.

Dicota ou cota só?

Dikota.

Dikota? Eu sei que cota é velho.

Hum hum...

Cota é velho.

Não, não, cota não é velho.

Ah, ok. Cota... Dikota?


Essa é uma das más traduções, que é o que o português usa o cota.

Ah, ok. Então não sei.


Dikota é o "mais velho". Que era uma coisa mais velha, não é velha. Porque velho é outra coisa.

Ok, ok.


Por exemplo se tu tiveres, por exemplo tu tens, eu tenho 40 anos. Uma pessoa que tem 41 é meu cota.


Ah ok.

Uma criança que tem 2 anitos, a criança que tem 3 é cota. Dessa criança. E o contrário de cota: Ndengue. Mais novo. O oposto. Não é criança, é mais novo. Vocês são meus ndengues.

É?


Claro, vocês não maia.

Mas não parece!

Obrigado!

Pareces novinho!


Tá a brincar ou quê? Kizomba.

Kizomba é música.

Kizomba é uma forma música, um estilo de música.

E dança.

E não sei dançar, tu sabes dançar?

Não.

Eu quero aprender!

Kizomba não, sei dançar umas coisas, mas kizomba não.

Eu sei dançar kizomba, eu danço bué!

Vais mostrar no vídeo a seguir?

Nope. Eu tenho vergonha! Kizomba significa festa.


Eu estou a apanhar sol aqui.

Ah, isso eu não sabia!

Ele agora tá a apanhar sol.


Kizomba é festa?

Kizomba significa festa.

Então já sabem.


Machimbombo.

É o nome de um bar aqui no Bairro Alto.

É, aqui, há aqui um bar chamado Machimbombo.

Ai é? Eu não sabia.

Eu depois vou mostrar no vídeo. Machimbombo.

É mesmo aqui ao lado, mas não sei o que significa.

Ya, é ali, aqui na Calçada do Combro.


Machimbombo? Olha, só por causa disso vou ao Machimbombo.

Ah, pois é!

Deve ser uma boa festa ou... não sei...

Autocarro. Tudo a ver! Tem ali um bar!

Nada a ver!

Autocarro.

Um bar chamado autocarro.

Machimbombo.


Jinguba?


Isto é português angolano ou isto é outras línguas?


Não, isso... português angolano, eu estava a explicar, o português angolano é literalmente uma evolução das línguas nacionais adaptadas ao português. Nós falamos português, eu não falo nenhuma língua nacional, mas isso é o que nós dizemos.


Metes aí palavras do... como é que é?


Kimbundu. Kimbundu porque eu sou de Luanda, tás a ver? Porque depois tens o pessoal do Mbundu, do Chokwe, do Fiote, do Kikongo, que são...


De outras partes. De outras línguas.

Exato. Kikongo, por exemplo, é do norte, que é a língua do Reino do Congo, que era o kikongo, que só se fala no norte de Angola e sul do Congo. Fiote é de Cabinda, que é tipo como se fosse uma versão mais light do kikongo. As pessoas que falam kikongo... As pessoas que falam fiote entendem kikongo. É como se fosse um sotaque da cena.


Sim, sim, sim, que fixe!


Mas não se pode falar da língua portuguesa falada em Angola sem falar das línguas nacionais porque estão coladas.

Jinguba. Nós nunca vamos adivinhar nada disto.


Amendoim.

Nada a ver.


Mas está aqui uma que é fixe: musseque.

Musseque. Rapaz.

É, tipo moleque no Brasil não é? Também pensei.

Deve ser.

Não, é bairro de lata, favela.

Nunca ia chegar lá.

Eu também não.


Mas agora deixei uma que é fixe e deve ser muito óbvia, e é diferente como se diz em Portugal, como se diz no Brasil, como se diz em Angola, mas é familiar: geleira.


Deve ser o frigorífico?


Geladeira no Brasil, Portugal frigorífico, Angola geleira.


A sério, geleira? Para nós uma geleira, nós usamos geleira se não me engano. É tipo aquelas, aquelas azuis.


Aquela cena para pores o gelo?


Para pôr o gelo, que tu levas, onde levas as cervejas.


Para fazer cubo de gelo, né?


Exatamente.


Em Angola, o frigorífico é a geleira.


Geleira.


Aquela que só faz, que fica só... Aqueles bem grandes que ficam só com neve lá dentro, que é para pôr os mambos que demoram bué o tempo a congelar: arca.


Também pode ser uma arca, mas uma geleira também.

O que tem em casa é geleira. Essa última frase foi mesmo Angola mesmo.


Bokuar.

Bokuá? Um pouco? Um pouco.

Não, bokuar é entrar para.

Isto é mesmo nada a ver, nada a ver.

Ir é bazar, bokuar é entrar para um spot.

Nem tem como adivinhar.

Nem tem, é completamente diferente.

Vem de uma língua completamente diferente, não é?


Depois dizemos spot, tipo bokuar num spot.

Spot é um sítio.

Ir para o lugar, exato.

Nós também usamos spot. Se calhar também foi de, também veio de vocês.

Não, acho que acho que todos nós roubámos deles.

Do inglês?

Ya, diretamente sacado.

Spot.

Spot, of course, spot.


Não, agora uma que eu disse-te há bocado. Deba. Essa é completamente do português.


Ainda bem que disseste, porque eu não me lembro.


Deba. Vou bokuar no deba.

Não faço ideia.

O que é que quer dizer bokuar?

Já me esqueci.


Eu disse agora! Este pessoal não...

Ah, vou... Já me esqueci. Sabes?

Bokuar é entrar.

Entrar, entrar para, sim.


Se eu disser agora, vou bokuar no deba.

Deba deve ser... casa.

Quase!

Cozinha.

Quarto não é, vai.

Sala.

Desenvolve, desenvolve.

Quarto, sala, cozinha, casa-de-banho.

Diz de novo.

Casa-de-banho.

Casa-de-ba.

Ah ok, deba.


Exato, vou bokuar no deba. Casa-de-banho. Então ficou o deba, de banho, casa-de-banho. Como é, tás a ir onde? Tou a bokuar no deba.


Olha, há uma que eu conheco, tu há bocado falaste do spot, que roubámos do inglês. Há uma que eu conheço porque o meu pai viveu, cresceu em Angola, e ele contou-me esta palavra e ficou-me na cabeça porque também é roubada ao inglês, que é chuinga.


Chuinga! Eu esqueci chuinga!


E a chuinga, diz lá o que é que é a chuinga.


Chuinga é chewing gum, do inglês. Chewing gum, sorry, chewing gum diretamente do inglês, já foi.


Exatamente. Em português: pastilha elástica.


Ya, tipo pastilha elástica.


Ah, mas sabes como é que diz em, agora sidenote, em Cabo Verde? Que também é um país que fala, de língua oficial portuguesa, mas falam crioulo? Eles dizem chingua, que é parecido porque vem do mesmo lugar, sacámos de vocês.


Então a cena das nossas línguas nacionais de Angola e o impacto que elas têm na língua portuguesa é que fazem, é que tornam... É que criam a peculiarida... fónix!


A peculiaridade.


Obrigado, da Língua Portuguesa em Angola, o português de Angola.


Exatamente.


Alvo mais que a neve é o meu amor por ti
Angola parou quando eu te escolhi

Para chegar aqui, o quanto eu sofri
Cuidaste bem de mim

E essas novinhas não podem te preocupar
Porque não sabem o que tive de passar

Para chegar aqui, ai quanto eu sofri
Ninguém aguenta assim

Mama, tu não és da Versace
És do tempo do São Paulo (arreiou, arreiou, arreiou)

Teu amor é coisa séria mama
É séria mama, é sério

É pra ti que eu vivo eh

É pra ti mama eh

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