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Ep. 20 - Sotaque e expressões madeirenses

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Ep. 20 - Sotaque e expressões madeirenses
00:00 / 13:27

Neste episódio vamos aprender algumas expressões típicas da Ilha da Madeira, bem como o que é que torna o sotaque madeirense tão único.



TRANSCRIÇÃO:


"Cunha, anda lá gravar o episódio sobre o sotaque madeirense!"


"Apaz vê se te acalmas, não vês que eu tou cambado (coxo), ainda dou um sopapo (uma queda) para aí!"


Olá a todos e bem vindos de volta ao Portuguese With Leo!


O episódio de hoje é muito especial porque vamos explorar um dos sotaques mais únicos de Portugal, o sotaque madeirense!


Como muitos de vocês já sabem, eu sou de Lisboa, e por isso falo com um sotaque lisboeta. No entanto, vivi durante 2 anos no Funchal, na Madeira, onde fiz muitos amigos madeirenses, um dos quais é o meu colega de casa e o convidado de hoje, o João Francisco Cunha.


Como o Leonardo disse, eu sou madeirense, mais especificamente do Funchal, e até tenho o sotaque funchalense.


Para o vídeo de hoje vamos explorar duas coisas: primeiro o sotaque madeirense e depois algumas palavras e expressões muito típicas da ilha da Madeira. Antes de irmos aos sotaques, um pouco de informação sobre a Madeira:


A Madeira é um arquipélago no oceano Atlântico com 2 ilhas habitadas: a ilha da Madeira e o Porto Santo; e 2 ilhas desabitadas: as Desertas e as Selvagens.


A Madeira está bastante longe do território continental português, a uns 1100 (mil e cem) quilómetros, o que significa que esta ilha, desde que foi colonizada no séc. XV, sempre esteve bastante isolada do resto de Portugal, o que fez com que as pessoas que aqui vivem, os madeirenses, tenham desenvolvido um sotaque bastante único e expressões bastante particulares.


Antes de começarmos, se estão a ouvir o podcast, recomendo fortemente que vejam o vídeo no Youtube, uma vez que é mais interativo e cada palavra estará acompanhada da sua tradução em inglês e de uma imagem daquilo que a palavra representa.

Cunha, quais é que são algumas particularidades do sotaque madeirense?


Sim, de facto o nosso sotaque tem umas coisas diferentes, apesar de não serem regras, mas que são comummente usadas, como por exemplo o -il.


Ou seja, sempre que há um -i antes de um -l, que não tem necessariamente de estar na mesma palavra, nós acrescentamos um -h e acrescentamos o som de “lhe” ao -l, como por exemplo a palavra quilómetros (kilometres).
Eu digo quilómetro e vocês dizem…


Quilhómetro.


Pois, de facto eu gosto de dizer que os madeirenses são muito práticos a falar e temos a tendência a tirar algumas letras às vezes, ou às vezes até mesmo a acrescentar de maneira a que elas soem de um modo mais rápido.


Como por exemplo, nós omitimos muitas vogais e pegando outra vez no -i e dando o exemplo de uma palavra: rabiçar.


Rabiçar tens de explicar o que é porque isso é uma palavra muito madeirense.


Exatamente, é altamente madeirense. Rabiçar é vomitar.


Em inglês, to throw up, caso não conheçam a palavra vomitar.


Nós de facto em vez de dizer tão articulado, rabiçar, nós… rabçar.


Vocês também comem o -i da palavra depois (after), por exemplo.


Ah pois, por exemplo, ou seja, -oi, depois, nós dizemos depôs. Nós de facto fazemos isso com vários ditongos, como -ões.
Portanto, a palavra leão, ou leões (lions), no plural, eu digo leões e vocês dizem…


Leôns.
Ou cães (dogs)


Câns.


Portanto o -e desaparece.


Em português de Portugal cortamos muito a última vogal das palavras, por exemplo o meu nome, Leonardo: Leonard. Quase não pronunciamos o último -o. Mas na Madeira isso é ainda mais extremo.


Sim, pode-se dizer que sim, nós tendemos a alterar a vogal ou às vezes a comê-la ou a acrescentar até uma consoante. Como por exemplo a palavra sentimento (feeling). Bem, nós podemos dizer sentmente. Eu agora exagerei, claro.


Aí trocas o -o final por um -e.


Por um -e, sentmente. Até mesmo em casos muito extremos acrescentar um -n: sentmentn.


E havia outra palavra muito madeirense que também tem essa particularidade.


Sim, uma palavra também exclusivamente madeirense: bilhardeiro, em que pronto, nós dizemos blhardeire.


Bilhardeiro é uma palavra que, se eu não tivesse vivido na Madeira, não conheceria, portanto explica-nos o que é bilhardeiro.


Pronto, bilhardeiro é basicamente coscuvilheiro.
Coscuvilheiro significa uma pessoa que gosta de saber da vida dos outros, uma pessoa que gosta de gossip, e portanto bilhardice é gossip.


Exatamente, sim.


Antes de passarmos agora para a lista de palavras que são típicas da Madeira, há uma particularidade gramatical: nós em Portugal Continental não usamos muito o gerúndio, mas na Madeira bastante.


Sim, na Madeira usa-se mais do que o normal.


Portanto, se eu disser “Nós estamos a gravar um vídeo”, na Madeira como é que se diria?


“Estamos gravando um vídeo.”


E agora então para lista de palavras, tu tens aí uma lista de palavras muito usadas na Madeira, não é?


Sim, sim. Algumas tenho a certeza que já conheces, outras não tanto. Portanto, podemos começar por apaz.


Apaz conheço. Apaz é uma forma de dizer, de chamar alguém, vem da palavra rapaz (boy), é o que se usa para chamar um amigo, para chamar uma pessoa, normalmente jovem. “Apaz, anda cá!”


Por exemplo, sim, sim, sim.


Ok.


Tenho aqui outra palavra que esta eu acho que não deves conhecer: babuginha.


Babuginha é a zona em que se está à borda da água, na praia, ou seja, prestes mesmo a entrar na água, e até já está um pouco molhado, claro. Isso é estar à babuginha (water’s edge).


Ok.


Pronto, próxima palavra: banheira.


Banheira, esta eu sei. Se eu não tivesse vivido na Madeira, a banheira é onde uma pessoa toma banho, the bathtub. No entanto, na Madeira, uma banheira é outra coisa...


Também é isso, mas também é outra coisa.


Que é o quê?


Que é alguidar (laundry basin).


Próximo: caga de saco ou cagar de saco. Não sabes? Ok. Cagar de saco, ou um caga de saco é alguém que ostenta, é alguém que se arma em bom.


Armar em bom, ok. Eu diria uma pessoa armar-se em bom, ter a mania, gabar-se.


Exato


E tu dirias?


É um caga de saco, está a cagar de saco.


Ok, muito estranho.


Chinesa.


Chinesa é uma pessoa do sexo feminino da China, no entanto, esta eu sei, os madeirenses acharam boa ideia chamar chinesa a uma bebida, não sei porquê, mas uma chinesa é uma meia de leite?


Exatamente.


Se quiserem saber o que é uma meia de leite, vão ver o meu vídeo sobre o café e o pastel de nata em Portugal e vão descobrir o que é uma meia de leite e muitas outras bebidas com café.


Cramar… não?


Não sei, não faço ideia.


Coisa que tu fazes muito: queixar-se (to complain).


Eu não me queixo!


Oh homem, isto é brincadeira!


Queixar-se.


Eu queixo-me muito.


Cubano.


Os madeirenses adoram nacionalidades. Tínhamos a chinesa, agora temos o cubano, que é uma pessoa de Cuba, mas, para os madeirenses, os cubanos não são de Cuba, são de Portugal Continental.


Sim, mais especificamente de Lisboa, mas usa-se para todo o continente, sim.


Ok, ou seja, eu sou cubano, não sou lisboeta.


Sim.


Na Madeira eles chamam cubanos aos de Lisboa porque em Portugal tivemos um regime fascista no passado e quando os militares de esquerda fizeram um golpe de estado no 25 de abril, a Revolução dos Cravos, para acabar com esse regime fascista, os Madeirenses ainda eram de direita, e portanto começaram a associar os portugueses de Portugal Continental a Cuba, à Cuba de Fidel Castro, aos comunistas. E daí os madeirenses começaram a chamar cubanos aos portugueses do continente, sobretudo os de Lisboa.


Dentinho.


Um dentinho é um dente pequenino (small tooth). Em português, se adicionarmos -inho ao final de qualquer palavra, fica pequenino, mas eu calculo que não seja isso.


Não, não, não. Um dentinho na Madeira é o aperitivo (appetizer), ou seja, quando vamos a um restaurante ou um bar: “Olhe, não tem aí o dentinho? Um dentinho?” Ou seja, um aperitivo.


Ok, não fazia ideia.


Bem, esta agora é uma que eu gosto particularmente porque é mesmo muito diferente: dar a mise.


Não faço ideia.


Dar a mise é dar à ignição, no carro, por exemplo. Dar à ignição, dar à chave.


Ok. Pronto, nós dizemos dar à chave, dar à ignição. Dar a mise nunca tinha ouvido. Start the car. Pôr o carro a funcionar.
Exatamente.


Ok, para esta nós não só temos uma palavra diferente como temos duas: prisão ou tranca.


Eu pensaria que uma prisão é onde os criminosos vão presos. Jail, prison. No entanto, os madeirenses chamam prisão a outra coisa.


A uma mola para prender a roupa (clothespin).


Uma mola.


Rezonda. Rezonda é nada mais, nada menos que um raspanete (scolding).


Um raspanete é uma repreensão, é dizer a alguém, repreender alguém por alguma coisa errada que ele fez. Por exemplo, um pai dá um raspanete ao filho quando o filho faz alguma coisa errada. É advertir verbalmente “Isso não se faz, foi errado!” E na Madeira?


Ah, vais levar uma rezonda!


Roeza.


Roeza, esta eu sei! É fome (hunger).


Exatamente. “Está-me a dar uma roeza!”


Esta é capaz de ser a mais conhecida dos continentais: semilha.


Semilha. Por falar em roeza, semilha é uma batata (potato).
Exatamente.


Pode ser uma batata doce?


Não, ninguém diz semilha doce, é batata.


Portanto, uma semilha é uma batata, mas uma batata doce é uma batata doce.


Exatamente.


Estás preparado para a última? Esta nem todos os madeirenses sabem, mas é muito engraçada. Stefan.


Stefan é um nome.


Sim, e nem é um nome muito português, na verdade.


Stefan, na Madeira, significa o pneu suplente de um carro (the spare tire).


A sério?


O pneu suplente de um carro. Furaste um pneu? “Ah, mas tens a stefan!”


A stefan? Ah, é feminino?


Sim! Não é o stefan. “Ah, mas tens a stefan?” “Sim, claro, está aqui!” “Bora trocar esse pneu!”


Espero que tenham gostado deste episódio um pouco diferente do habitual em que explorámos o sotaque e algumas expressões madeirenses!


E se gostaram deste jovem, atraente convidado e querem ver mais fotografias dele em diferentes cenários e a viajar, vão ao Instagram @joãofranciscocunha4 e também o vão ver num futuro vídeo.


Sobre o português mais famoso de sempre.


E por isso, vemo-nos nesse vídeo.


Até mai lhogue!

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